sexta-feira, setembro 29, 2006

1001 pedaços do Ser

É de fúria que se veste a tranquilidade em que viveu por três bocados de nada. Abriu as mãos despejadas de ganas e deixou o suor tomar-lhe conta do espírito. Em partes de tempo, sentiu a sede ávida da calma e não se desfez. Imitou a raiva e quebrou-se em 1001 pedaços. A intenção era outra. A intenção era estar e não sentir. Era ter e nem esperar. Conquistar. Conquistar. Conquistar. Grita mais grave a estrelada fantasia de não amar. Grita mais forte a dúvida de ser capaz de Ser. Agora tem o nada, brinca aos poucos, chora por muito, desespera por tanto, anseia por restos e vive os vazios. Agora vem de noite, porque a fiel escuridão abranda-lhe a vergonha que lhe cobre o rosto. Mas vem! E fica…

quarta-feira, setembro 27, 2006

Oh "Donna Maria" !!!

É cedo para quem se adormece tarde, e ceio sons desta perfeição da música portuguesa – Donna Maria – Quando o som nos rasga pelos ouvidos e se dispara contra o lado de dentro do coração. É como andar a 160km/h, esboçar a cabeça pela janela e não se conseguir respirar porque o ar nos adentra os pulmões sem pedir licença. Assim se prova que há musica. E que até é portuguesa. Quero encher a cabeça e esvaziar para voltar a encher, porque não me canso de sofrer desta sublimação. É ditoso o gesto musical com que se cose tamanhos tecidos harmónicos. Provocam-se desconcertos e quase se precipita o sal dos olhos. É nestes momentos que se enaltece o tremer dos lábios e se dá valor ao instinto. Quero mais!!!

segunda-feira, setembro 25, 2006

Beija Flor e Alma Gémea

Quero dedicar-te os ramos, as folhas, o tronco e as flores. Quero enlaçar-te nas raízes e podar-te em mim. Alma gémea, estreita-te no meu casco e firma-te, renegando a força do tempo que te quis levar. Que de esperanças vivo eu aqui na formatada saudade de te cheirar. E por mais que me estreiem… e por mais que me queiram, não serei senão a infértil semente apertada na terra de ninguém. Sejas tu a “minha menina, só minha”. Sejas tu a pioneira rainha da luz que me fermenta. Sejas tu a Beija Flor que me visita cada dia e espreita os doces presentes que te consagro. Sejas tu o anuncio breve da primavera que se deita no meu chão e me garante a presença terna da tua água.

À minha distante “Colombina”

sábado, setembro 09, 2006

O desajeitado

É humilde de pé descalço, treme e é inseguro. Falha nos cálculos antecipados e chora porque falha. É tão discreto que não se lembra de alguma vez se ter visto. É magro, mas exímio jogador. Escuta com cuidado, mas não fala e tem memória fraca. Não pertence ao grupo dos vencedores. Quando nasce é condenado à morte e enche-se de vida para que dure enquanto durar. Adormece num piscar de olhos e quando menos espera já não existe. É o informalmente desajeitado Antivírus do Amor.

domingo, setembro 03, 2006

180º

Nem um só “piu”! Quero os rodopios as voltas e pulos. Porque não hei-de ter o direito à desmedida felicidade? Então vá, vem viajar. “- Cabra cega, de onde vens? – Do caminho. (…) “ Up and go! Já sentes?... Isso, agora descreve-me como é. É a luz branca e fria de uma manhã de primavera, não é? É acordares a meio da noite e veres que ainda te sobram 3 horas para dormir, não é? É um chá gelado no miradouro da graça, num quente final de tarde de verão, não é? É o silêncio entupido e o cheiro a frio na tua chegada a casa depois de uma noite de ruído e “strobes” psicadélicos, não é? É o beijo molhado na boca?! É andar descalço nas razias das ondas! É ver ao longe e chegar perto! É vento fresco no suor da testa! É cheiro a banho! É adormecer em mimos! É tropeçar mas não cair! É o filme com o final perfeito! É a música preferida sussurrada ao ouvido! É a mensagem que diz “amo-te”! É o olhar cúmplice no meio da multidão! É o presente certo! É a gargalhada da criança que corre embriagada de cócegas; as fotos do verão passado; a deixa perfeita no “timing” certo; o deslizar macio de uma “bic”; o saco cama fechado na noite fria do acampamento; o casamento do teu melhor amigo; as musicas da tua infância; os reflexos natalícios na calçada da rua Augusta; o grito contido no crescendo da melodia!...