sábado, janeiro 21, 2006

Palavras Fáceis


Falo-te com palavras fáceis enquanto combato as difíceis. Digo-te – entrega – enquanto me estrangula fidelidade. Ouves-me dizer esperança, enquanto me finta a certeza. Conforto-te com a ilusão enquanto me engana a magia. Suspiro-te a fraqueza, enquanto me humilha a cobardia. Entoo-te a harmonia enquanto me desafia a inquietação. Murmuro-te – pouco – enquanto me pesa o imenso. Segredo-te a clareza enquanto me esmurra a loucura. Sussurro paixão enquanto me afogo no amor.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Experimento o escuro.

Ando dormente por entres caminhos labirínticos cheios de curvas e rectas, de sabores e formas. São as múltiplas sensações que me ressuscitam dos dias em que dormi embalado em desculpas em que queria, enganado por mim, acreditar.
Hoje é, de todos, o dia em que me dói mais o escuro. Preciso da incandescência do toque! Se me perguntas porque quero e não te respondo, é porque me perco na corrente turbilhante e me afogo em todos os lagos por onde passo. E porque nem sei se conheço essa pergunta. Posso acreditar nas paixões e não defender o amor? Posso querer tudo e ter apenas demais? Livro-me da luz porque me farto sempre da claridade e vivo aqui, no escuro. Aguento mais e mais e expludo com mil olhares e com o ricochete que me faz sentir tonto e não me esclarece a sensação. Troca comigo. Dá-me a mão enquanto te dou o peito. Quero saber porque és isso.
Sou sensível à saudade e não à presença. Sou apaixonado pela irrealidade. Encanto-me com o que não me mostras e desdenho o que me dizes. Vou saltar e ver se me agarras e fazer de mim mais um momento. Quero ser só momentos! Não quero pertencer ao passado, não acreditar no futuro. Quero chamar-me “Agora” e fazer do meu nome a vida. Vou lá fora – onde se abrilhantam as tardes e se dá causa aos gestos. Vou aprender o namoro dos outros e subir na escada que eu construir.
Anda. Leva-me de mão na mão e corre e puxa-me e rodopia-me e enche-te de abraços meus.
Chama-me “Agora” enquanto me segredas “Esta Noite” e me fazes acreditar que sou o “Amanhã”.