terça-feira, abril 10, 2007

A grande jornada, o reencontro e a feliz despedida.

E por momentos (largos) ele fez-se pequenino. Já não tinha o tamanho de quem empina o nariz, e quase que se ouvia o ranger dos ossos do seu corpo, que se sobrepunham uns nos outros tal era a pequenez que sentia. Arrastava os pés por cima das folhas que cobriam quase a totalidade do espaço em que se escondera durante meses. Arrastava-se porque lhe pesava a pele. Lembrava-se constantemente de um filme que vira quando era criança. Um menino que tinha como melhor amigo um balão. Pena não ser ele outra vez menino…e também balão. Queira ser menino e dizer que não queria ter daqueles “momentos”. E ser balão e poder fugir para o alto do céu e olhar do cimo. Mas o claustrofóbico espaço em que varria cada passo, não era só um pequeno espaço, era também a sua grande prisão. E, todos os dias, descansava a testa no vidro quebrado da sua janela, à espera. A única coisa que via, era, seis degraus de uma escada, de um prédio que lhe tapava todo o ângulo de visão. Mas era ali, nessa escada, nesse prédio, que estava o vento que precisava para esticar asas. Era mesmo ali que começava a “outra vida”. Mas o medo era muito e a coragem nenhuma. As memórias que guardara, tinham raízes que quase lhe tomavam o lugar das veias e não se conseguia apartar delas. Mas o dia tinha de vir. O dia em que montava um grande cavalo alado e entraria naquele prédio, subiria aqueles degraus, resgataria o que era seu, e partiria, em voo vertical, em direcção ao topo do mundo.
- E se esse dia fosse hoje? E se esse dia fosse agora? E se amanha tiver menos coragem que hoje? E se amanha me pesarem mais os pés e me cravam as unhas no chão?
Pensou ele.
E ainda não tinha acabado de pensar, quando o seu corpo se pôs de pé e o expulsou num impulso, para o confronto. Era agora! Era hoje que escreveria numa branca folha de papel, pronta a receber na sua “re-volta”, a sua liberdade! Montado, arrancou! Entrou pela porta que tantas vezes lhe cobriu os olhos, subiu todos os degraus num galope, fez-se guerreiro de elmo e espada, e, ao som de um relinchar, cravou-lhe o aço no peito. Beijou-a na testa, e largou-a no chão, morta! Assim quebrou o feitiço que o assombrara por tantos largos momentos. Era outra vez grande. Era outra vez ele. E assim, montado no seu cavalo, num pinote se fez ao seu destino – o topo do mundo.